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O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), foi alvo de protestos nesta sexta-feira em Jeremoabo (384 km de Salvador). Petistas insatisfeitos arremessaram ovos no carro onde Jerônimo participava de uma carreata com o candidato a prefeito Matheus de Deri (PP) pelas ruas do centro da cidade. Um vídeo mostra o governador e o seu aliado se abaixando para não serem atingidos pelos ovos. Em cima do carro, Matheus de Deri usa um boné azul com um M, replicando a estética dos bonés utilizados por Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB.

O PT concorre à Prefeitura de Jeremoabo com Fábio da Farmácia, mas o petista foi deixado de lado por Jerônimo, que decidiu embarcar na candidatura do candidato do PP, aliado do prefeito Deri do Paloma. O apoio faz parte da estratégia do governador de se reaproximar do PP, partido que rompeu com o PT em 2022 para apoiar a candidatura de ao governo do estado de ACM Neto (União Brasil), que acabou sendo derrotado.

Em nota, o PT da Bahia lamentou a tentativa de agressão em Jeremoabo e disse repudiar qualquer ato de violência política. “O direito ao contraditório e à divergência de ideias são fundamentais para a construção histórica do PT, mas nunca podem ser expressados na forma de ataque pessoal, político ou simbólico”, afirmou o partido. O PT também destacou que Jerônimo se engajou em campanhas petistas na Bahia, tendo participado de mais de 40 atos de campanha de candidatos do partido e gravado vídeos de apoio para mais de 100 candidatos. “Nossa tática eleitoral encontra enorme sintonia com o governador. Todavia, ele preside uma ampla coalizão de diversos partidos e é natural que pontualmente haja discordância com alguma definição eleitoral local”, informou. O diretório estadual do PT da Bahia informou ainda que vai apurar o caso e tomar as medidas cabíveis.

cara q canalhice desse governador bixo kkkkkk, os cara largam mão do proprio candidato pra apoiar outro por coalizão, a base reage e o cara culpa a base

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Entre as décadas de 1930 e 1940, o Brasil era como um paraíso dos cassinos. Mais de 70 casas funcionavam no país, e os jogos de azar faziam parte da cultura nacional. No dia 30 de abril de 1946, entretanto, essa realidade mudou abruptamente. Pelo menos de forma legal. Sob o argumento de que esse mercado feria a “tradição moral, jurídica e religiosa” do brasileiro, o então presidente Eurico Gaspar Dutra assinou um decreto proibindo a prática.

Quase 80 anos depois, o cenário é outro. Mesmo diante de um Congresso considerado conservador, o Brasil reabriu as portas para o mundo das apostas, legalizadas em 2018, com a Lei 13.756. Desde então, o país vive um novo “boom” desse mercado, agora de apostas online.

O setor deve ser regulamentado e fiscalizado a partir de janeiro de 2025. O Ministério da Fazenda já tem 182 pedidos de empresas interessadas em obter licença para operar no país, de acordo com o Sistema de Gestão de Apostas. Somente entre setembro e o primeiro dia de outubro, foram 70 novos pedidos.

O interesse é de empresas nacionais e multinacionais da área, como MGM Grand e Caesars Palace, que atuam no mercado de cassinos físicos em Las Vegas, nos Estados Unidos.

Na outra ponta, as apostas online estão fincando raízes na rotina da população. Uma pesquisa do Instituto DataSenado, publicada nesta terça-feira (01/10), mostra que 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais, cerca de 22 milhões de pessoas, declararam ter participado de “bets” no último mês.

Outro levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) já havia mostrado que 63% de quem aposta no país compromete a renda para jogar. Já um levantamento do Banco Central (BC) revelou que inscritos no Bolsa Família teriam direcionado cerca de R$ 3 milhões para as bets apenas via Pix em agosto.

Esse último estudo vem sofrendo contestação, porém todos esses dados são termômetro da nova onda que já posiciona o Brasil, de acordo com a empresa especializada em análise de dados Comscore, como o terceiro mercado mundial em consumo de casas de apostas, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido.

Pesquisadores e integrantes do setor creditam a atratividade do mercado de apostas brasileiro a uma série de fatores, entre eles o apelo a uma paixão nacional, o futebol; o atraso em regulamentar a área; a possibilidade turística para cassinos físicos; o tamanho da população economicamente ativa; e a desigualdade social existente no país.

“O Brasil não é só um mercado interessante, ele é considerado uma das joias da coroa do mercado de aposta mundial, principalmente se levarmos em consideração que o país está sem jogo legalizado há quase 80 anos”, defende Magno José, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL).

Sites deverão sair do ar em dez dias Nesta terça-feira (01/10), o Ministério da Fazenda publicou uma lista com todas as empresas de bets e apostas aptas a operar no Brasil até dezembro. A lista inclui 89 empresas com respectivamente 193 bets (marcas) que vão continuar operando no país. O governo federal também solicitou informações aos estados, que registraram seis empresas com respectivamente seis bets.

Todos os outros sites que não foram incluídos na lista não poderão mais divulgar ofertas e serão proibidos no país. Eles permanecerão no ar por dez dias, para facilitar o pedido de devolução do dinheiro de apostadores. A partir de 11 de outubro, eles começarão a ser derrubados, com auxílio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Aqueles que não pediram autorização de licença ao ministério passarão a ser classificados como ilegais. Quem solicitou atuar no Brasil, mas não estava funcionando ainda, deverá aguardar até 2025. Até lá, a pasta analisará todos os pedidos de licenciamento.

"A medida proporciona mais segurança para a sociedade e para as empresas que querem operar adequadamente no Brasil. Com isso, protegemos a saúde mental e financeira dos jogadores", ressaltou Regis Dudena, secretário de Prêmios e Apostas do ministério, em nota.

O peso da falta de regulamentação

A lei de 2018 previa uma regulamentação para o setor de apostas entre dois a no máximo quatro anos, mas apenas em fevereiro de 2023 o país começou a estabelecer as regras de funcionamento das bets esportivas e jogos similares.

Para tanto foi criada uma agenda regulatória, que incluiu a publicação de 11 portarias até setembro deste ano com normas para licenciamento, marketing, fiscalização, entre outras.

O governo federal havia estabelecido que a partir de janeiro iria banir as empresas que não tivessem a licença de operação concedida, mas pesquisas apontando o dano financeiro e de saúde na população, bem como investigações sobre lavagem de dinheiro envolvendo o mundo das bets e influenciadores digitais, anteciparam a medida.

Representantes do setor, Magno José, defendem que a ausência de regulamentação foi o que catapultou o Brasil no mercado internacional de jogos de azar. Ele estima que haja mais de 2 mil sites em funcionamento. Para José, os recursos que poderiam ter sido investidos na compra de outorgas e gerar tributos ao Estado acabaram direcionados para publicidade e marketing, o que tornou o mercado selvagem e nocivo, além de permeado por sites ilegais.

De acordo com o professor do Departamento de Sociologia e Metodologia e Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcelo Pereira de Mello, a ausência de regras no mínimo facilitou uma corrida para abrir empresas da área. “Uma regulamentação frouxa e a falta de experiência da gestão pública serviram como estímulo para a criação de muitas empresas de fundo de quintal”, afirma.

O interesse político

O Brasil vive historicamente uma relação de amor e ódio com os jogos de azar. Tanto que a proibição de Dutra, em 1946, não foi a única a ocorrer no país. Por outro lado, a inexistência dos cassinos online nunca limitou totalmente os jogos de azar, que permaneceram ocorrendo por vias lícitas ou ilícitas, seja na loteria federal ou com o jogo do bicho.

De acordo Mello, do ponto de vista sociocultural não há nada que faça o brasileiro ser mais propenso a jogar em comparação a outros mercados mundiais. “Aqui se joga como em qualquer outro país. Os jogos de aposta são uma tradição das sociedades humanas, de maneira geral”, diz.

Autor do livro Criminalização dos Jogos de Azar - A História Social dos Jogos de Azar no Rio de Janeiro, Mello ressalta inclusive que o Brasil sempre viu os jogos de azar pela perspectiva conservadora. Contudo, ele lembra também que esse tipo de negócio sempre esteve vinculado a políticos.

“Pode parecer um paradoxo, mas isso é explicado por outra característica da política brasileira, que é o fisiologismo. Houve uma intensa atuação de lobbies relacionados a apostas, com promessas de favorecimento a diversos grupos dentro do Congresso Nacional”, acrescenta.

Paixão nacional como motor

Outro fator apontado como importante nessa equação é a paixão do brasileiro por futebol, já que as apostas em eventos esportivos representam parte significativa desse mercado. Empresas do setor começaram a realizar propaganda em diversos eventos desde 2018 e patrocinam pelo menos 30 clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro, incluindo Flamengo e Corinthians.

“É um mercado novo, que explora uma paixão nacional. As pessoas podem pensar que aquilo não é um jogo de azar, mas de conhecimento técnico sobre o esporte, o time, os jogadores”, afirma Mello. De acordo com José, 80% dos apostadores brasileiros são considerados recreativos, ou seja, que apostam em pequenas quantias. “É aquela coisa de mandar no grupo de amigos que apostei no time que ganhou”, diz.

Daniel Dias, professor da FGV Direito Rio de Janeiro, lembra, contudo, que faltam dados comparativos com outros países para cravar se a paixão do brasileiro por futebol move mais apostas do que em outros países onde acontece o mesmo fenômeno.

“Independentemente disso, é uma novidade, e tudo o que é novo atrai atenção. Além disso, o mundo das bets está entrando com muita publicidade agressiva”, diz Dias.

Com a regulamentação do mercado, as bets vão precisar ter sede no Brasil e licenciamento para seguir patrocinando os times de futebol e outros eventos esportivos. Em outros países, como no Reino Unido, o patrocínio das casas de apostas foi proibido de ser estampado nas camisas dos clubes a partir de 2026.

“A gente vê grandes jogadores de futebol, da seleção, vinculando suas imagens às apostas esportivas. Além disso, a gente tem anúncio em tudo quanto é canto, num ambiente sem categorização de idade”, afirma Rodrigo Machado, psiquiatra e coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

Espaços físicos em locais paradisíacos

Em 1920, o então presidente Epitácio Pessoa chegou a liberar os cassinos, mas só em balneários, para fomentar o turismo e custear o saneamento básico no interior. Mas tanto os estados quanto o Governo Federal fecharam vários dos hotéis-cassinos, que só voltaram a ser estimulados a partir de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas.

Agora, com o mercado online efervescente, há a expectativa de que o país também volte a aceitar os espaços físicos de apostas. E ter um litoral vasto é considerado um ativo interessante para a eventual instalação de cassinos físicos.

O Congresso discute um projeto de lei para regulamentar o jogo do bicho, a corrida de cavalo e os cassinos. O texto do PL 2.234, de 2022, é uma versão do PL 442, que tramitava desde 1991 e foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2022. O documento está em tramitação no Senado, com última movimentação no início de agosto deste ano.

Representantes de empresas com atuação em Las Vegas, como o presidente da Caesars Sportsbook no Brasil, André Feldman, têm realizado encontros com senadores e integrantes da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda.

Segundo a ferramenta Agenda Transparente, da Agência Fiquem Sabendo, Feldman realizou pelo menos três encontros com representantes do Executivo e Legislativo desde 2023. A última delas no dia 4 de setembro, com o senador Rogério Carvalho (PT/SE) e integrantes do MF. Já Alex Pariente, vice-presidente sênior do Hard Rock International para hoteis e cassinos, encontrou-se em maio com representantes do MF.

“Estamos num país que tem muitas belezas naturais, então, se forem aprovados os cassinos presenciais, é um mercado fantástico para instalar resorts e cassinos e fomentar o jogo de azar presencialmente”, lamenta Machado.

Desigualdade social como pano de fundo

A pesquisa do DataSenado mostra que o perfil principal de apostadores no Brasil são pessoas do sexo masculino, entre 16 e 39 anos, que ganham até dois salários-mínimos. Entre as pessoas que apostaram, cerca de 58% estão com dívidas em atraso há mais de 90 dias.

Por que é tão perigoso se viciar em games de aposta?

Os dados corroboram as pesquisas já divulgadas pela SBCV e o Banco Central sobre o perfil de quem está se tornando consumidor nesse mercado. Para os pesquisadores entrevistados pela DW, são estatísticas que revelam o papel da desigualdade social na proliferação das bets.

“A camada social mais pobre é mais vulnerável a esse tipo de atividade, pois são pessoas que muitas vezes estão endividadas ou querendo fazer uma grana extra, que estão com a corda no pescoço”, afirma Dias.

Mello ressalta também as desigualdades educacionais como fato. “No Brasil, os mais pobres são também os que têm menos escolaridade formal. Essas empresas prometem enriquecimento, mudança de padrão de vida a uma população desesperançada. Então, a expectativa de ascensão social se dá por esse meio”, diz.

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@bunkerdaesquerda Buenas, camarada!
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1 de outubro de 2024 às 17:28 O jornal israelense The Jerusalem Post recebeu denúncias após publicar e deletar logo em seguida um artigo que sugeria a anexação ilegal do Líbano e de outros Estados do Oriente Médio a Israel, como parte de uma chamada “terra prometida”.

“O Líbano é parte do território prometido de Israel?”, apontou o texto publicado em 25 de setembro, coincidindo com a escalada aérea ao país árabe e antecipando a subsequente invasão por terra, na manhã desta terça-feira (1º).

O momento da publicação, assim como seu conteúdo explícito, levaram críticos a indicar o material como prova das ambições expansionistas de Israel.

Segundo o cineasta e autor canadense Omar Mouallem: “Este editorial do Jerusalem Post que defende anexar partes de Líbano, Síria, Jordânia e Iraque, como parte de um ‘Grande Israel’ foi discretamente deletado, porém, por sorte, está arquivado. Vejam os objetivos de longo prazo dos poderosos extremistas de Israel”.

O texto, escrito pelo ideólogo colonial Mark Fish, insiste que a terra “prometida por Deus” aos “filhos de Israel” inclui, para além do território designado Israel — ocupada na Nakba ou “catástrofe”, de 1948, mediante limpeza étnica planejada —, partes da Faixa de Gaza e Cisjordânia, assim como Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e mesmo Turquia.

Como base, Fish reivindica numerosos textos religiosos. “O Torá dá diretrizes claras sobre as áreas que devemos conquistar ao tomar posse da terra”, argumentou, ao pormenorizar o conceito de “Grande Israel”, com fronteiras bíblicas, “desde o rio do Egito [Nilo ou Sinai] ao rio Eufrates”.

Após denúncias nas redes sociais, o Jerusalem Post removeu o artigo de suas páginas. No entanto, o texto continuou a circular online, ao incitar colonos extremistas.

“Deus nos disse que temos o direito sobre toda a terra que conquistarmos nas fronteiras mencionadas”, enfatizou Fish, ao propagar conceitos do sionismo religioso e sequestrar a escritura judaica para fins coloniais.

“Todo lugar onde tocar a sola de nosso pé será nosso — dos bosques e do Líbano até o rio Eufrates e mar a oeste, que será nossa fronteira”, reiterou. “A promessa do Criador coloca claramente as terras do Líbano dentro de nossas terras prometidas”.

A publicação sucede um ano de genocídio em Gaza, conforme denunciado pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia. Entre as evidências, estão declarações similares de cunho fundamentalista e desumanizante contra comunidades e países árabes e palestinos, proferidos por jornalistas e políticos israelenses.

Em Gaza, são 41 mil mortos, 96 mil feridos e dois milhões de desabrigados desde outubro de 2023.

Há quinze dias, Israel intensificou ataques aéreos ao Líbano, após atentados terroristas — atribuídos ao Mossad — que explodiram pagers e walkie-talkies nas ruas do país. Desde então, são mil mortos, 2.600 feridos e um milhão de deslocados à força.

Nesta terça-feira (1º), Israel iniciou uma invasão por terra ao território libanês, seguida — horas depois — por uma resposta do Irã à escalada regional, com mísseis balísticos que chegaram a Tel Aviv e outras cidades e colonatos.

Textos como o de Fish são condenados por disseminar não apenas propaganda de guerra, como incitar pogroms cometidos por colonos ilegais israelenses contra aldeias e cidades palestinas nas terras ocupadas da Cisjordânia e de Jerusalém.

A tese de “Grande Israel” foi proferida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em seu discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de 2023, ainda antes de se deflagrar a crise em Gaza. Na sessão deste ano, Netanyahu repetiu seus mapas, desta vez com a legenda messiânica “Bênção” e “Maldição” — em alusão a Israel e seus inimigos, respectivamente.

O Jerusalem Post não comentou, tampouco se desculpou pela matéria.

Não confundam Mark Fish com Mark Fisher! - O segunda já tá morto faz tempo.

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O clima está "mais tranquilo", disseram lideranças da Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu ao Brasil de Fato, depois que, em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), foi firmado o acordo para que fazendeiros se retirem do território em Antônio João (MS) mediante indenização do Estado.

Sem data definida publicamente para o pagamento ocorrer, no entanto, os proprietários da Fazenda Barra - Pio Queiroz e Roseli Ruiz - seguem no território sob escolta da Polícia Militar (PM). A Força Nacional também está presente na área.

A audiência de conciliação mediada pelo gabinete do ministro Gilmar Mendes na última quarta-feira (25) aconteceu depois que o conflito, que se arrasta há décadas, escalou. Após uma tentativa dos indígenas de retomar a área da Fazenda Barra em 13 de setembro, a PM alvejou uma mulher no joelho e um jovem na cabeça. Neri Ramos, de 23 anos, morreu na hora. Dias depois, Fred Garcete, Kaiowá de 15 anos, foi encontrado morto na estrada.

Depois de sete horas de negociação em Brasília, foi assinado o acordo de que a União deve pagar uma indenização de R$ 27,8 milhões aos fazendeiros pelas benfeitorias feitas nos imóveis sobrepostos ao território indígena. Outros R$ 102 milhões serão pagos (majoritariamente pela União, mas também pelo governo do Mato Grosso do Sul) pelo Valor de Terra Nua (VTN), ou seja, o preço de mercado do imóvel sem contar construções ou instalações.

Enquanto o debate público se acirra em relação à abertura de precedente sobre a indenização de fazendeiros por terra nua, algo que ruralistas defendem e que organizações como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) dizem ser inconstitucional, os Guarani Kaiowá de Nhanderu Marangatu contam os dias para ocupar de uma vez por todas os 9.317 hectares de seu território.

O próximo passo para que isso aconteça é o pagamento das benfeitorias, que deve ser realizado pela Fundação Nacional dos Indígenas (Funai) por meio de crédito suplementar. Feito o depósito, os fazendeiros terão 15 dias corridos para sair da área.

O Brasil de Fato questionou a Funai e o STF sobre a previsão para que o pagamento ocorra e não teve resposta até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto. A data não está estipulada na ata do acordo.

Advogados indigenistas que acompanham o caso afirmam ter a expectativa de que as benfeitorias sejam pagas em até 30 dias e que, assim, até o fim novembro não haja mais fazendeiros no território.

Já Nalva*, liderança de Nhanderu Marangatu, acredita que o pagamento deve levar até três meses. "Estamos aguardando essa indenização, né? Mas, assim, a fazendeira continua, ela anda escoltada com segurança do Estado dentro da aldeia", conta.

"Estamos vivendo esta situação: não muito bem, mas também não muito mal", define João*, outro Guarani Kaiowá. "Ainda temos dificuldade de acessar água e alimentos, estamos pedindo doação", relata.

O que diz o acordo

Após o depósito dos cerca de R$ 28 milhões em indenização por benfeitorias e a retirada dos fazendeiros em até 15 dias, "a comunidade indígena ingressará no imóvel de forma mansa e pacífica", diz a ata da audiência de conciliação.

O Estado deverá pagar o valor restante de R$102 milhões divididos aos fazendeiros proporcionalmente aos hectares de seus imóveis, por meio de precatórios. Este pagamento deve ocorrer entre 2025 e 2026.

"As partes se comprometem a suspender imediatamente os atos de hostilidade", discorre o documento firmado, "e a Polícia Militar do Estado do Mato Grosso do Sul manterá o policiamento ostensivo apenas na área da Fazenda Barra e na estrada até a rodovia, utilizando o uso proporcional da força quando estritamente necessário".

  • Nomes alterados para a preservação da fonte.
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Uma delegação de indigenistas e indígenas Guarani Kaiowá, Avá-Guarani, Xokleng, Munduruku e Pataxó está em Genebra, na Suíça, para denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) a violência contra os povos originários no Brasil.

Na 57ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a comitiva relatou os ataques de fazendeiros e policiais militares que, entre julho e setembro, apenas no Paraná e em Mato Grosso do Sul, mataram um indígena, feriram cerca de 20 e deixaram cinco com projéteis alojados no corpo. Um adolescente Kaiowá de 15 anos também morreu, em circunstâncias não elucidadas.

Às autoridades internacionais, a delegação ressaltou que o escalonamento da violência no país está relacionado com a Lei 14.701/23, que estabelece a tese ruralista do marco temporal. A sua aprovação pelo Congresso Nacional no fim de 2023 ignorou, inclusive, as recomendações desta mesma instância da ONU ao Brasil.

“A Lei 14.701 parou as demarcações. Forçam nosso povo a desistir das terras sagradas. Montam armadilhas e oferecem outras terras. O Congresso avança contra nossos direitos. O STF, com o ministro Gilmar Mendes, criou Câmara de Conciliação para negociar direitos e favorecer os fazendeiros”, expôs Simão Guarani Kaiowá em Genebra.

Sobrevivente do Massacre de Caarapó de 2016, Simão tem uma bala alojada próximo ao coração. “Pedimos aos países que aqui estão, frente ao que já disseram os relatores, que pelo amor de Deus nos ajudem a cobrar o fim do marco temporal e da Lei 14701; a demarcar nossas terras; a garantir a segurança de nosso povo e a investigação no caso dos assassinatos”, declarou.

Ao Brasil de Fato, Alessandra Korap, do povo Munduruku, ressaltou que, ao falar “da questão da seca, da morte do nosso rio, da floresta queimada e tudo que está acontecendo”, estão explicitando à comunidade internacional que “isso tem um nome: agronegócio”.

Vilma Rios, da Terra Indígena (TI) Guassu Guavirá, do Paraná, é outra das lideranças que fez um pronunciamento às Nações Unidas. A jovem Avá-Guarani tomou tiros de chumbo em um ataque de fazendeiros contra a retomada tekoha Yvho´i no último 27 de agosto.

Com o metal tóxico alojado no corpo, Vilma pediu aos Estados membros do Conselho da ONU que “tomem medidas claras” para “prevenir este genocídio em curso, perpetrado por agentes estatais e milícia armada”.

“Estamos tentando fazer com que a violência que nós estamos sofrendo seja visível não só no nosso país, mas também fora”, disse Vilma ao Brasil de Fato.

“Os povos Avá-Guarani têm sofrido muito desde que fizemos a auto-demarcação da TI Guassu Guavirá”, completa, se referindo a retomadas de terra feitas no oeste do Paraná desde julho.

“Há um protagonismo das mulheres diante de toda essa situação, e crianças e jovens estão nas retomadas sofrendo, passando fome, deixando de ir para a escola porque esse conflito se expande também para fora do território, chegando no espaço público, na escola, na cidade”, descreve Vilma Avá-Guarani.

"O quadro é muito complicado", definiu Paulo Lugon Arantes, assessor internacional da Comissão Arns que acompanha a comitiva em Genebra. "As lideranças indígenas vieram aqui denunciar o forte esquema de violência armada, principalmente contra os contextos de retomada. Vieram também denunciar a milícia Invasão Zero e o desmatamento", afirmou.

Evento paralelo

Na manhã desta quinta-feira (26) a delegação fez um evento paralelo dentro da sede da ONU para tratar destes temas. O espaço permitiu aprofundá-los, diferente do plenário geral, onde cada liderança teve um minuto e meio de fala. Para Alessandra Korap, o tempo reduzido é também “uma violação”.

“Para falar de todos os problemas que a gente está vivendo, sofrendo, os ataques e as empresas entrando dentro do território, o marco temporal - um minuto e meio não é nada”, afirma Alessandra.

“Entendi que a ONU precisa ouvir mais, precisa saber o que está acontecendo realmente com os povos indígenas”, diz a liderança Munduruku. “Precisamos continuar pressionando a ONU, mas também pressionando o governo brasileiro”, defende.

Participaram da mesa desta quinta (26) o relator do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre os povos indígenas, o diplomata José Francisco Cali Tzay, Erilsa Braz dos Santos, Pataxó da TI Barra Velha, da Bahia; Brasílio Priprá, do povo Xokleng da TI Ibirama Laklano de Santa Catarina; Maurício Terena, diretor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), além de Alessandra e Vilma. Luís Ventura, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), fez a mediação.

Sob o título “Direitos territoriais dos povos indígenas – O marco temporal e a violência contra povos”, o debate foi organizado pelo Cimi, Apib, Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani Kaiowá), Comissão Arns, Fian Brasil, Fian Internacional, Conselho de Missão Entre Povos Indígenas (Comin), Vivat, Minority Rights Group e WBO – Brazil Office Washington.

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Não há uma ‘pauta de costumes’ e uma ‘pauta econômica’, mas sim a mesma política de controle e destruição dos corpos insurgentes - texto de Eliane Brum para a Sumaúma.

Alerta de conteúdo sensível para violência sexual, genocídio e violência no campo.

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CRITICAR ou DAR PALCO? Como enfrentar a DIREITA NAS REDES feat. Chavoso ... @bunkerdaesquerda

https://youtube.com/watch?v=UDoPuROQzvc

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O escritor e professor publica um novo livro em espanhol: Pele branca, combustível preto. Os perigos do fascismo fóssil, um ensaio escrito em parceria com o Coletivo Zetkin e que explora a relação entre o fascismo atual e o extrativismo de recursos fósseis.

A entrevista é de Azahara Palomeque, publicada por La Marea/Climática, 23-05-2024. A tradução é do Cepat.

Andreas Malm (Mölndal, Suécia, 1977) conecta-se pontualmente à nossa videoconferência desde Nova York. Ele gesticula muito e pensa profundamente em cada palavra antes de pronunciá-la, como se reconhecesse que os temas são difíceis e merecem reflexão. Acaba de publicar na Espanha Piel blanca, combustible negro. Los peligros del fascismo fósil (Captain Swing, 2024), um ensaio espetacular escrito em parceria com o Coletivo Zetkin, que demonstra que, longe da crença num possível futuro ecofascista, o fascismo atual se articula em torno de uma defesa ferrenha do status quo baseado no gás e no petróleo, intimamente relacionado com o racismo.

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Cerca de 600 mil pessoas, entre as mais vulneráveis, podem perder o benefício que lhes garante vida minimamente digna. Pretexto: aprimorar o programa. Objetivo real: compensar privilégios fiscais oferecidos a grandes empresas.

Texto por David Deccache, mestre em economia pela UFF e assessor econômico da bancada de deputados federais do PSOL.

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A gente tem alguma sigla localizada para ACAB? @bunkerdaesquerda

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Eu não aguento mais. O que falta pra irmos pras vias de fato contra a elite do nosso estado burguês? @bunkerdaesquerda

#esquerdaradical #anarquismo #marxismo #comunismo

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A esquerda está realmente dividida? - o estranho NARCISISMO das PEQUENAS DIFERENÇAS @bunkerdaesquerda

https://youtube.com/watch?v=pYj04ZB7PFc

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De todos os inimigos da democracia e da liberdade, Friedrich August von Hayek foi provavelmente o mais inteligente. No mínimo, ele foi o mais influente: as estruturas da economia global de hoje – a União Econômica e Monetária Europeia, os bancos centrais, as “emendas orçamentárias de equilíbrio fiscal” inseridas nas constituições nacionais e os acordos de “livre” comércio que garantem os lucros futuros para o capital – baseiam-se essencialmente nas suas idéias e nas de seus alunos.

Dizem que Margaret Thatcher certa vez tirou da bolsa o livro de Hayek A Constituição da Liberdade, durante uma reunião política do Partido Conservador e proclamou: “É nisso que acreditamos!” Mesmo depois de cinquenta anos de devastação neoliberal, ainda existem aqueles que mantêm uma fé verdadeira. Um deles é Javier Milei. Quando o filho de um empresário de capital em ascensão foi eleito presidente da Argentina, a Sociedade Hayek, com sede em Berlim, lhe concedeu o seu maior prêmio: a Medalha Hayek. A sociedade, que tem sido criticada pela sua proximidade com o partido de extrema-direita Alternativa Para a Alemanha, saudou a “visão clara do poder de uma economia de mercado” de Milei, capaz de “uma vez mais estabelecer as bases para a liberdade, a prosperidade e a paz social”, na tradição de “Ludwig Erhard, Ronald Reagan e Margaret Thatcher”.

Gerd Habermann, membro do conselho executivo da Sociedade Hayek e professor honorário de economia na Universidade de Potsdam, escreveu na ocasião do centésimo dia de Milei no cargo que ele buscava a abolição do “Estado de Bem-Estar Social igualitário (não apenas sua reforma) e do ‘destrucionismo’ sócio-político (‘generismo’ e tudo o que está relacionado com isso)”. De fato, Milei acionou sua “motosserra” apenas dez dias após o início do seu mandato, ao apresentar um decreto de emergência: em nome da liberdade total para o capital, ele aboliu ou alterou os direitos dos trabalhadores à sindicalização; leis para proteção contra demissões e no local de trabalho; controle dos preços de eletricidade, saúde e transporte público; proteção dos inquilinos contra as corporações imobiliárias; e proteção do consumidor contra práticas abusivas de empresas farmacêuticas, bancárias e de cartão de crédito. Todos os gastos do governo foram congelados, com exceção dos militares. Além disso, Milei busca a privatização total de todas as empresas estatais. Para implementar estas políticas sem oposição, o decreto incluiu uma “lei de habilitação” que pretendia conceder a Milei poderes quase ditatoriais em áreas políticas fundamentais. Hayek certamente teria gostado muito de tudo isso. Escrevendo no diário de negócios Handelsblatt, o presidente da Sociedade Hayek, Stefan Kooths, descreveu Milei como um “golpe de sorte para o liberalismo” – e esperava que ele representasse o prenúncio de uma nova onda de fundamentalismo de mercado.

O primeiro objetivo de Hayek era sistematicamente manter o povo – “o grande grosseirão” (nas palavras de Heinrich Heine) – à ​​distância de todas as decisões sociais e econômicas que afetam suas próprias vidas. Seu segundo objetivo principal era entregar a classe trabalhadora completamente indefesa para o capital.

Ele e seus seguidores sempre fizeram isso em nome da “liberdade”. Essa palavra corre por toda a obra de Hayek, que seu aluno Milton Friedman chamou de “a batalha pela liberdade”. O significado dessa palavra, no entanto, é a libertação irrestrita do capital, cujo outro lado é a escravidão assalariada. Hayek queria a exploração sem limites. Foi por isso que ele recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1974 — numa época em que os lucros do capital estavam sendo espremidos — o que, de acordo com a revista conservadora National Interest, fez dele uma “figura cult da direita radical”. Naquele momento, Hayek ainda teve que dividir o prêmio com o economista keynesiano de esquerda Gunnar Myrdal — um sinal de que a crise do fordismo era um processo aberto, com múltiplas saídas possíveis. O prêmio recebido por Friedman em 1976 sinalizou um pouco mais tarde o ponto de virada neoliberal, bem antes de Thatcher e Reagan serem eleitos, com políticas radicalizadas já sendo estabelecidas por seus predecessores.

Hayek odiava a igualdade. Ele só aceitava igualdade perante a lei — uma piada de mal gosto quando o cidadão comum é forçado a processar uma indústria automobilística oligopolista, farmacêutica ou uma corporação hospitalar. Hayek justificava as dramáticas desigualdades econômicas inerentes ao desenvolvimento capitalista — ou seja, o fato descrito por Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman de que, sem redistribuição massiva, a renda do capital engole a renda do trabalho — com referência a diferenças “hereditárias”. Esse argumento ressoa com a premissa de que as fortunas de Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckerberg e os Quandts e Klattens seriam o resultado de conquistas e méritos pessoais.

O radicalismo de mercado encurralado Na década de 1930, como resultado da crise capitalista, de greves em massa e do medo do comunismo pela burguesia, houve uma tentativa nos Estados Unidos de lidar com a gritante desigualdade e tornar mais igualitária a distribuição de riqueza e renda novamente, fortalecendo os direitos sindicais, introduzindo e expandindo e a tributação progressiva da renda e da riqueza, além de expandir o setor público da economia. O presidente Franklin Delano Roosevelt foi confrontado com o fracasso da política liberal de austeridade de seu antecessor Herbert Hoover, que tinha feito o desemprego em massa aumentar para 25%. Naquele momento, de maneira radical, ele passou a taxar toda renda anual acima de US$ 1 milhão em 75%, uma porcentagem que mais tarde chegaria a 91%.

Esse dinheiro foi investido com sucesso em programas de emprego público (Works Progress Administration e Civilian Conservation Corps), na expansão de infraestrutura (eletrificação, rodovias, pontes, metrôs, represas e sistemas de irrigação, etc.), na conservação da natureza (estabelecimento e expansão de parques nacionais), no desenvolvimento de estruturas do Estado de Bem-Estar Social e também na promoção da vida cultural. Se ele tivesse conseguido o que queria, a taxa de imposto nessa faixa de renda teria sido de 100%. Em 1936, o economista John Maynard Keynes, em sua principal obra A teoria geral do emprego, do juro e da moeda — na qual em essência se basearam as políticas econômicas orientadas à demanda do capitalismo fordista (1933–75) —, antecipou a “eutanásia do rentista”, que vive exclusivamente da renda de capital sem qualquer mérito.

Entretanto, o paradigma keynesiano foi substituído pelas ideias neoliberais de Hayek durante a crise do fordismo na década de 1970. O fato de que o próprio Keynes tinha ajudado Hayek a obter uma posição na King’s College em Londres pode ser considerado uma piada de puxada de tapete histórica. Desde então, não faltaram motivos para os rentistas comemorar. De acordo com o Escritório Federal de Estatística, 1% da população alemã hoje vive exclusivamente da renda do capital, ou seja, do trabalho (excedente) de outras pessoas, cujo valor eles se apropriam por meio de lucros e dividendos de ações em empresas listadas na bolsa de valores. Alguns sociólogos já chegaram a acusar a distinção feita pelo Movimento Occupy entre os 99% mais pobres e o 1% mais rico da sociedade como sendo uma simplificação do conceito de classe. Não obstante, na realidade essa distinção estava muito próxima das verdadeiras relações de classe.

De qualquer maneira, foi assim que as gigantescas fortunas bilionárias de hoje foram criadas, o que contrasta com a pobreza relativa e cada vez mais absoluta da população e com o colapso da infraestrutura pública, como escolas, pontes e transporte público. Como Piketty demonstrou, em 2007 a desigualdade atingiu novamente o pico de 1929, na véspera da crise financeira global. Isso não foi coincidência: o capitalismo do mercado financeiro constantemente leva a crises financeiras porque as gigantescas pilhas de capital em busca de oportunidades de investimento lucrativas produzem constantemente novas bolhas especulativas. Além disso, elas também causam crises sociais, onde as políticas públicas criarem novos investimentos por meio da privatização de serviços públicos de moradia, saúde, sistemas de aposentadoria, educação, etc.

Hayek já havia aprendido a odiar políticas como as de Roosevelt na “Viena Vermelha” social-democrata, até seus primeiros anos de universidade na década de 1920. Em 1921, um de seus professores o conectou ao economista austríaco Ludwig von Mises, autor de uma refutação radical ao socialismo chamada Die Gemeinwirtschaft (1922), que então se tornou seu mentor. Em sua obra de 1944 O caminho da servidão, dirigida a um público anglo-americano em meio à Segunda Guerra Mundial, Hayek colocou Roosevelt em estreita proximidade com Hitler: era preciso “declarar a verdade desagradável de que é a Alemanha cujo destino corremos algum risco de repetir”. Certamente “as condições na Inglaterra e nos Estados Unidos” eram diferentes, admitia. Talvez ele quisesse evitar o ceticismo sobre se a extensão do direito de greve para trabalhadores dos EUA era realmente tão semelhante à aniquilação do movimento trabalhista alemão nos campos de concentração nazistas, ou se os programas de emprego público para trabalhadores de todas as etnias eram um Auschwitz americano mas, de acordo com Hayek, essas diferenças não deveriam obscurecer a percepção de “que estamos caminhando na mesma direção”.

Com razão, Hayek via o radicalismo de mercado na defensiva na década de 1940. Embora grandes empresas nos EUA tenham financiado a distribuição em massa de O caminho da servidão, havia uma tendência na direção de uma maior regulamentação do capitalismo e mais planejamento econômico. O capitalismo liberal havia levado à Grande Depressão; a Depressão ao fascismo; e o fascismo à Guerra Mundial. Somente a União Soviética havia se saído bem da crise graças ao planejamento econômico e, embora tivesse emergido a partir de um país em desenvolvimento dependente e atrasado, estava agora no processo de libertar a Europa do fascismo alemão quase que sozinha. Nos Estados Unidos, Roosevelt teve sucesso na implantação de políticas de esquerda. Após a guerra, o socialismo de estilo soviético foi estendido à Europa Oriental, enquanto um governo trabalhista bem à esquerda chegou ao poder na Grã-Bretanha, e os comunistas ganharam força de massas na França e na Itália. Também na Alemanha, imediatamente após 1945, milhões de pessoas em todas as zonas de ocupação convergiram para o movimento trabalhista e até mesmo apoiaram a socialização da indústria de larga escala em um referendo em Hesse, que as forças de ocupação dos EUA impediram. Até mesmo a União Democrata Cristã (CDU) reconheceu em seu Programa de Ahlen que o “sistema econômico capitalista não serviu aos […] interesses do povo alemão”, razão pela qual era necessária uma “ordem econômica socialista”, para além da “busca capitalista de lucro e poder”.

Contrarrevolucionário

Naquele momento, Hayek via a si mesmo como um contrarrevolucionário. Sua utopia estava no passado: o “capitalismo manchesteriano”, com trabalho infantil e jornadas de trabalho de dezesseis horas era seu “Paraíso Perdido”. Reagan disse certa vez que, se tivesse a chance, ele faria a roda da história retornar ao século XIX; e quando ele disse essas palavras, Hayek estava discursando. No entanto, o paraíso estava perdido porque, como o oponente teórico de Hayek, Karl Polanyi, descreveu em seu livro A grande transformação, também publicado em 1944, a imposição de uma ordem de mercado liberal força a sociedade a se defender contra o mercado, diante da exploração da natureza e da “mercadoria fictícia” do trabalho. De acordo com Polanyi, tal ordem “não poderia existir por longos períodos de tempo sem aniquilar a substância humana e natural da sociedade”.

Hayek observou a “Grande Transformação” que ocorreu depois de 1870. Seu reflexo ideológico foi a migração da hegemonia do pensamento do mundo anglo-saxão para o mundo de língua alemã, que ele observou e lamentou: para longe de John Locke e Adam Smith e na direção a Karl Marx e Max Weber. Hayek buscava uma nova “Grande Transformação” de volta ao futuro. Sua obra é uma declaração de guerra contra o socialismo. Para ele, porém, o socialismo já começa com o liberalismo corporativo, que, por medo do movimento dos trabalhadores, tentou conter pelo menos os excessos mais flagrantes do capitalismo com medidas como inspeções de fábrica e a jornada máxima de trabalho estabelecida em lei. Em O caminho da servidão, Hayek chamou isso de “ladeira escorregadia” para o socialismo. Ele dedicou seu livro “aos socialistas de todos os partidos”.

Ainda assim, apesar de toda a sua nostalgia, Hayek também via a necessidade de modernizar o liberalismo clássico. Ele queria um retorno à uma “economia livre”, como ele a chamava, por meio de um sistema político no qual, de acordo com seu biógrafo Bruce Caldwell, “qualquer legislação que tenha como meta uma redistribuição específica de renda seria proibida”. Ele foi confrontado com um problema básico: como impedir que as massas usassem o sufrágio universal que haviam conquistado para reivindicar pelo menos parte do valor excedente desviado pelo capital — ou até mesmo para abolir a propriedade privada capitalista dos meios de produção, na qual o poder do capital se baseia.

Hayek usou um truque de ilusionismo para isso. Ele negava a existência de classes e concebia um indivíduo abstrato, cuja liberdade — exclusivamente negativa — estaria baseada no fato dele não ser controlado pelo Estado. Dessa maneira, ele definia toda política tributária como uma privação de liberdade. Para algumas pessoas — pois ainda há bezerros que escolhem seus próprios açougueiros — esse conceito negativo de liberdade ainda ressoa hoje.Essa ideia mira no adulto que permaneceu uma criança, que reclama contra as expectativas dos pais de que ele lave as mãos antes de comer para não ficar doente, ou de ajudar a arrumar seu próprio quarto para não afundar no caos. Ao mesmo tempo, essa abordagem infantil se conecta com a alienação daqueles isolados na competição capitalista e a transfere para a atitude social-darwinista do “cada um por si”. Os “libertários” (de direita) são, de acordo com um tuíte que se tornou viral em 2023, “como gatos domésticos: absolutamente convencidos de sua feroz independência, ao mesmo tempo em que são totalmente dependentes de um sistema que não apreciam e nem entendem”.

Uma ordem natural?

Em A constituição da liberdade, Hayek propagou o “governo da lei”. Ao contrário de Marx, ele não enxerga o capital nascendo “pingando da cabeça aos pés, de cada poro, com sangue e sujeira”. Para ele, o capitalismo não faz parte de um processo gradual geral de relações de produção criadas e transformadas de maneira revolucionária, uma sociedade de transição que cria as condições para uma sociedade socialista desenvolvida. Em vez disso, ele considera o capitalismo como sendo uma economia de mercado “natural”. Basicamente, a disputa entre marxistas e Polanyi, de um lado, e neoliberais como Hayek, de outro, também tem a ver com qual ordem seria realmente “antinatural”: o socialismo ou o “livre mercado”. Frequentemente, Hayek e seus discípulos se contradizem quando às vezes, como faz Friedman na introdução à nova edição em inglês de O caminho da servidão, descrevem o mercado como sendo o “senso comum” e, em outras vezes, o socialismo como sendo a reação emocional natural ao capitalismo e o radicalismo de mercado como um raciocínio altamente intelectual.

Segundo Hayek, a civilização (de mercado) surgiu de “hábitos inconscientes” que foram transformados em “declarações explícitas e articuladas” e que, portanto, tornaram-se cada vez mais “abstratas e gerais”. Referindo-se à tese de Smith sobre a “mão invisível”, ele escreve que “os esforços espontâneos e descontrolados dos indivíduos foram capazes de produzir uma ordem complexa de atividades econômicas”. Uma constituição deveria limitar o Estado a supervisionar as regras do mercado e proteger a propriedade privada capitalista. A democracia e as decisões por maiorias são intrinsecamente disruptivas neste sistema. Como o mercado tenderia a um equilíbrio estável — a alocação ótima de recursos e a autorregulação da economia — não haveria falhas no mercado. Em vez disso, o Estado seria a causa de todo e qualquer problema.

Hayek rebateu o argumento de que a utopia dos neoliberais havia sido refutada pela distopia do capitalismo de Manchester com o argumento de que na verdade a penúria do século XIX não seria uma consequência das políticas econômicas liberais – e que ela nem mesmo seria uma miséria genuína. Em vez disso, o aumento da “riqueza das nações” provocado pelo mercado teria apenas aumentado as expectativas de prosperidade dos “grandes grosseirões” e levado à descoberta de “pontos bastante sombrios na sociedade”. Na realidade, porém, não haveria “nenhuma classe que não tenha se beneficiado substancialmente do avanço geral”. Ele explicou a contradição de um forte movimento trabalhista emergindo em reação às imposições do capitalismo liberal dizendo que a implementação do “livre mercado” não teria sido radical o suficiente e que seu avanço fora “lento” demais.

A argumentação dele é fundamentalmente antidemocrática. Basicamente, as sociedades lhe parecem — não por coincidência — crianças ingratas que exigem cada vez mais. Na sua opinião, foi a “ambição sem limites” delas que, “aparentemente justificada pelas melhorias materiais já alcançadas” causou uma mudança onde “se aproximando da virada do século, a crença nos princípios básicos do liberalismo foi sendo cada vez mais renunciada”. Além disso, o socialismo também seria culpa de intelectuais que seduzem os trabalhadores para algo que seria estranho à sua natureza — o coletivismo, ao invés do individualismo. O socialismo e tudo o que há de “comunística” (Michael Brie), que teriam suas raízes no cristianismo e em todas as religiões do mundo que tem dado forma à história humana, seriam na verdade uma rejeição das “tradições morais geradas espontaneamente e subjacentes à ordem competitiva do mercado”, escreve Hayek em Arrogância fatal (1988). O socialismo seria “um sistema moral projetado racionalmente […] cuja atração depende do apelo instintivo de suas consequências prometidas”. Além disso, ele reclamava que “quanto mais subimos na escada da inteligência, quanto mais conversamos com intelectuais, é mais provável que encontremos convicções socialistas”.

Em última análise, o radicalismo de mercado deve sua sobrevivência ao fato de que, por mais destrutivo que seja, ele inevitavelmente provoca um contramovimento que re-regula o capitalismo. Isso significa que os neoliberais conseguem manter e se apegar à sua visão do efeito de “melhoria da humanidade” de mercados “livres”. Eles sempre podem alegar que sua utopia ainda não foi totalmente realizada em lugar nenhum.

Mas voltando à “constituição da liberdade”: as regras a serem monitoradas por ela devem ser apenas “abstratas, gerais e impessoais”. Para Hayek, o “governo da lei” (ou “estado de direito”) é fundamentalmente incompatível com políticas de redistribuição em favor da “justiça social”. Políticas fiscais e regulamentações já aparecem em O caminho da servidão como regras arbitrárias, e o Estado de Bem-Estar Social como totalitarismo. A tentativa histórica contrafactual de Hayek de retratar o fascismo e o comunismo não como inimigos mortais mútuos, mas como irmãos no interior de uma mesma família de “coletivismo”, também se baseia nisso. Sempre que libertários de direita hoje enfatizam que Adolf Hitler era, no fim das contas, um “‘nacional’-socialista”, estamos lidando com um bingo de besteiras inspirado em Hayek.

Liberalismo autoritário Como um liberal clássico, Hayek seguia a teoria de Locke, que defendia os interesses das classes proprietárias com o argumento de que cada pessoa deveria ter permissão para tomar posse de toda a riqueza do ambiente natural de que fosse capaz de se apropriar. Já Pierre-Joseph Proudhon, um dos primeiros teóricos socialistas, afirmou certa vez que “A propriedade é um roubo”. Hayek argumenta contra ele: não só a socialização, mas até mesmo a tributação seria um roubo.

O capitalismo realmente existente seguiu sendo o calcanhar de Aquiles de Hayek. A desigualdade que ele precisa justificar não é só o resultado do desempenho. Ele reconhecia “acidentes do ambiente” – que significam que qualquer pessoa que herde milhões ou até bilhões quando criança e que “faça com que esse dinheiro ‘trabalhe’ por eles” não precise ser nenhum novo Einstein. Só que “talento natural e habilidades inatas” também são “vantagens injustas”. O “desejo de eliminar os efeitos do acidente, que está na raiz da exigência de ‘justiça social’, pode ser satisfeito […] apenas eliminando todas aquelas possibilidades que não estão sujeitas ao controle deliberado. Mas o crescimento da civilização depende em grande parte de que os indivíduos façam o melhor uso possível de quaisquer acidentes que encontrem.” Hayek chama isso de “liberdade perante a lei”, que ele chama de sua “preocupação central”. Qualquer igualdade que não seja a “igualdade das regras gerais de direito e conduta” seria equivalente a “destruir a liberdade”.

Preservar a “ordem” (do capitalismo) e suas “regras” (de mercado) era uma coisa sacrossanta para Hayek, não importa o que o “demos” possa desejar. Pelo contrário, para Hayek os esforços do povo para determinar seu próprio destino seriam mera tirania. Hayek, seu professor Ludwig von Mises e seus alunos como Friedman e James Buchanan — em suma, as mentes do neoliberalismo — enfrentavam o mesmo problema que Carl Schmitt e o fascismo. O fato deles terem observado uma conexão histórica entre o crescimento da democracia de massas e a superação do liberalismo econômico significou que o legado antidemocrático do liberalismo clássico foi continuado em seu pensamento — e que a história real do neoliberalismo também está intimamente vinculada com o autoritarismo.

O neoliberalismo e o fascismo são formas de pensamento burguês em reação à democracia de massas e ao socialismo. Ambos são maneiras de enfrentar o mesmo problema: sob as condições do sufrágio universal, como evitar que as massas possam repentinamente imaginar a ideia de combater a escassez de casas e a loucura dos aluguéis com moradias sociais; de fornecer alimentos, saúde, educação e transportes básicos como bens públicos gratuitos ou subsidiados, correspondendo a direitos humanos básicos ao invés de tratá-los como mercadorias; ou mesmo a ideia de transformar a propriedade privada capitalista da terra, indústria e bancos em seu próprio interesse, para que uma economia socializada possa servir ao povo e não o contrário. Pensadores fascistas como Schmitt buscavam abolir o sufrágio universal em favor de uma ditadura (presidencial) completa. Hayek, escrevendo para a burguesia anglo-americana da coalizão anti-Hitler, sabia muito bem que essa batalha já estava perdida. Em vez disso, ele se concentrou na neutralização do processo democrático. Hayek é o principal teórico da “pós-democracia” (no adequado termo de Colin Crouch). Seu trabalho teórico pode ser resumido à busca por meios para estabelecer a ditadura do capital sem uma ditadura política permanente. Portanto, ele se concentra em restringir de maneira fundamental o escopo para os governos eleitos. Sua teoria remove sistematicamente a soberania deles sobre a política financeira e econômica. Comparado a Schmitt, isso, em última análise, torna Hayek o contrarrevolucionário burguês mais inteligente. Ainda assim, ele também permanecia aberto à ditadura total a fim de vencer a guerra contra a democracia, as massas e as instituições de Bem-Estar Social.

Hayek descobriu aquilo que procurava na tradição teórica liberal — Montesquieu, Benjamin Constant e Locke — e na história dos EUA. Na Constituição dos EUA de 1776, ele encontrou a solução definitiva para o problema da burguesia, mesmo sendo uma minoria social, conseguir determinar a política do Estado. Como os historiadores demonstraram Charles Beard e Terry Bouton, a Constituição dos EUA surgiu no mesmo espírito, como um produto da contrarrevolução contra o “momento democrático” da guerra revolucionária anticolonial da época, que tornou o sufrágio universal incontestável.

Um dos primeiros observadores de como as constituições podem corroer a democracia foi Polanyi, quando escreveu que os Estados Unidos “isolaram por completo a esfera econômica da jurisdição da Constituição, colocando assim a propriedade privada sob a maior proteção concebível e criando a única sociedade de mercado [capitalista] legalmente estabelecida no mundo. Apesar do sufrágio universal, os eleitores americanos eram impotentes contra as classes proprietárias.” Já em 1939, Hayek havia argumentado em A liberdade e o sistema econômico que “podemos ‘planejar’ um sistema de regras gerais que se apliquem igualmente a todos e que sejam projetadas para permanecer permanentes.” O que já devia se aplicar aos indivíduos passava agora também a ser vinculativo para as democracias parlamentares.

Constituição econômica

Hayek e seus alunos usaram dois mecanismos para estabelecer o desenvolvimento social orientado ao mercado: primeiro, por meio de constituições (econômicas) juridicamente vinculativas e, segundo, o enfraquecimento sistemático das competências de política econômica e financeira do Estado-nação por meio de uma política de federalização. Tanto a centralização quanto a descentralização, portanto, tinham um papel a desempenhar: por um lado, a centralização dos poderes de tomada de decisão em órgãos antidemocráticos como os bancos centrais, que foram declarados “independentes”, – ou seja, deixaram de prestar contas, responder a demandas e de serem controlados democraticamente – e em tratados internacionais por um status constitucional que seja juridicamente vinculativo sobre os Estados; e, por outro, a descentralização em favor de aparatos estatais locais com poucos poderes fiscais (e etc) de direção e controle.

Historicamente, a “internacionalização do Estado” (Robert W. Cox) se tornaria a ferramenta essencial do “novo constitucionalismo” (Stephen Gill) baseado em Hayek. Isso equivalia à restrição de estados-nação por meio de constituições juridicamente vinculativas em nome do capitalismo mundial, como o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), acordos de proteção de investimentos, a constituição econômica da UE com seus critérios de convergência neoliberal (“emendas constitucionais de equilíbrio orçamentário”, etc.) e órgãos que estão além da influência dos parlamentos nacionais, como o G7 e a Comissão Europeia.

O novo constitucionalismo, portanto, fortaleceu o poder estrutural do capital – ou seja, sua mobilidade -, o que serve para forçar subsídios de Estados e concessões de política salarial dos sindicatos em um ciclo perpétuo, e para permitir a fuga de capital e, como resultado, a queda de governos se eles planejarem redistribuição ou socialização. Também fortaleceu os ministérios (especialmente os de finanças) mais próximos desse sistema, às custas de portfólios econômicos, trabalhistas e sociais.

Hayek assentou, assim, os alicerces essenciais para um sistema de mercado sem alternativas, com regras que os governos nunca deveriam questionar, sob o risco de ter de enfrentar a própria queda. Foi seguindo o espírito de Hayek que foram criadas as regras da OMC sobre o tratamento igualitário do capital nacional e internacional, tornando impossível para os Estados dependentes lutarem pela independência. Ele criou a base para o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS) sobre a proteção dos “direitos de propriedade intelectual”, permitindo que as empresas farmacêuticas monopolizassem até mesmo plantas e sementes, não importa quantas centenas de milhares de agricultores indianos cometam suicídio como resultado. Hayek pode, em última análise, ser creditado por acordos de proteção de investimentos, como o Acordo Integral de Economia e Comércio (CETA) e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), com base nos quais as corporações transnacionais podem processar os Estados em busca do pagamentos de indenizações horrorosas por perdas futuras de lucros de capital se eles tomarem decisões democráticas, como a proibição do cigarro ou a eliminação gradual da energia nuclear.

Além dessa desdemocratização, Hayek também desenvolveu outro meio de tornar completa a ditadura do capital, a federalização. Com base na premissa de que “a criação de um Estado mundial [democrático] provavelmente representa um perigo maior para o futuro da civilização do que a guerra”, Hayek e, em seu rastro, Buchanan buscaram a descentralização sistemática das funções governamentais, uma “economia política de federalismo aberto” (Adam Harmes) e a “competição entre governos locais”. Hayek escreve:

Temos ainda que aprender como limitar de forma eficaz os poderes de todo governo e como dividir esses poderes entre os níveis de autoridade […] A criação de um Estado mundial provavelmente representa um perigo maior para o futuro da civilização do que até mesmo a guerra […] Embora tenha sempre sido característico daqueles que preferem um aumento nos poderes governamentais apoiar a concentração máxima desses poderes, aqueles principalmente preocupados com a liberdade individual geralmente defendem a descentralização.

Hayek reconhecia o potencial para a disciplina orçamentária dos governos locais quando eles competem entre si por capital e pelos seus investimentos diretos, que não são mais restritos por controles de capitais.

O mesmo princípio de descentralização também se mostrou útil em termos de fazer secar o odiado Estado de Bem-Estar Social, porque as autoridades locais geralmente são incapazes de satisfazer a pressão da sociedade por moradia social, melhores escolas, lares para pessoas com direito a asilo, etc. — fazendo com que, em resposta, eles pudessem simplesmente apontar para suas mãos atadas pela política fiscal. Durante a crise financeira global, os estados individuais dos EUA foram forçados por freios de dívida regionais a escolher entre aumentos de impostos ou cortes sociais. Os cortes sociais são, portanto, estruturalmente incorporados nas constituições.

A liberdade para poucos

Hayek provou ser, portanto, a arma mais afiada da hostilidade burguesa à democracia. A “democracia compatível com o mercado” exigida pela chanceler alemã Angela Merkel na esteira da crise da zona do euro, que se submete aos mercados financeiros internacionais, é baseada no seu pensamento.

Teorizar a ditadura do capital em um sistema de sufrágio universal e, assim, encontrar uma audiência entre a burguesia durante a crise do fordismo dos anos 1970 foi o triunfo histórico de Hayek — o tornando o mais poderoso propagandista da liberdade para poucos às custas da falta de liberdade para muitos. Hoje, o liberalismo reivindica para si o conceito de liberdade, mas Hayek ainda estava ciente de sua natureza controversa. Não há “nenhuma dúvida de que a promessa de maior liberdade se tornou uma das armas mais eficazes da propaganda socialista”. Essa liberdade mais ampla de fato só pode acontecer por meio do socialismo: como liberdade em relação à exploração e ao tempo não-livre, que é o pré-requisito para uma vida autodeterminada para todos aqueles que têm que viver do seu trabalho assalariado.

A hostilidade elitista de Hayek à democracia sugere que o radicalismo de mercado não pode ser do interesse da maioria da classe assalariada. Mesmo que ele não tenha chegado a conclusões fascistas — Mises em 1927 ainda havia dado as boas vindas ao fascismo como a “salvação da civilização europeia” — ele, não obstante, assumiu que a contrarrevolução contra o Estado de Bem-Estar Social provavelmente teria que ser ditatorial porque, de acordo com sua teoria da “sobrecarga” junto de Buchanan , as massas nunca votariam contra o assistencialismo. Hayek, assim, exigia na década de 1970 que os “destinatários líquidos de transferência” – ou seja, todos os funcionários do setor público, todos os aposentados e todos os trabalhadores desempregados – fossem privados do direito de votar.

Os neoliberais, por conseguinte, também apoiaram diretamente o golpe contra o socialismo democrático no Chile em 1973 e a ditadura militar de Augusto Pinochet. Somente Thatcher e seu “populismo autoritário”, que combinava o desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social com apelos nacionalistas e com a guerra – e, portanto, basicamente combinava Hayek com Schmitt – viria a demonstrar, seis anos mais tarde, que o neoliberalismo era possível mesmo se o sufrágio universal fosse mantido. Porém, ainda em 1981 Hayek declarou em uma entrevista que sempre preferiria uma ditadura de mercado a uma democracia de Estado de Bem-Estar Social. “A concorrência”, disse Hayek, “ ao fim e ao cabo, é sempre um processo no qual um pequeno número de pessoas torna necessário que números maiores façam o que não gostariam de faze, seja trabalhar mais, mudar hábitos ou dedicar um grau de atenção, aplicação contínua ou regularidade ao seu trabalho que sem a concorrência não seria necessário.”

Hayek duvidava que “um mercado funcional já tenha surgido sob uma democracia ilimitada”. A esse respeito, ele certamente tinha razão.

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Nas eleições de 2024, a Unidade Popular (UP) será um dos partidos com maior proporção de pretos disputando um cargo. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 32,73% dos candidatos da UP se autodeclaram pretos, uma porcentagem 3 vezes maior do que a média dos demais partidos que estão participando da disputa: apenas 11% dos candidatos a prefeito e vereador nas eleições deste ano são pretos.

O cenário reflete as consequências de séculos de opressão e exploração, da escravidão no passado à exclusão e marginalização social na atualidade, que ainda se põem como barreiras à participação política da população negra.

No 13º ponto de seu programa político, a Unidade Popular defende o “fim do racismo e da discriminação dos negros”. Com a ampla presença dos pretos – especialmente jovens e mulheres – em suas chapas por todo o país na eleição de 2024, o partido demonstra mais uma vez o seu compromisso com a libertação negra e popular no Brasil. O jornal A Verdade conversou com algumas das candidatas da UP para apresentar suas lutas contra o fascismo e em defesa dos direitos da classe trabalhadora e do socialismo.

Candidaturas de luta Na capital mais negra do país, Salvador (BA), a UP se destacou por lançar uma chapa 100% composta por negros para prefeitura, vice-prefeitura e vereança, com o objetivo de agitar seu programa socialista e antifascista na eleição municipal. Compõem a chapa Willian Santos do MLB, candidato a vereador, Giovana Ferreira, candidata à vice-prefeitura, e Eslane Paixão, candidata a prefeita.

“No caso de Salvador, que é a cidade mais negra fora da África, ter uma candidatura de uma mulher preta, pobre e periférica comprometida com um programa revolucionário só reafirma o nosso compromisso com a luta daqueles que são mais explorados pelo sistema capitalista, ainda mais nesse contexto em que os candidatos da UP não vão ter os bilhões que os candidatos da burguesia vão ter à sua disposição nessa eleição“, disse Eslane, de 31 anos. Além de candidata, a baiana é militante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e ajudou a organizar na cidade a Ocupação Luiza Mahin, nomeada a partir de uma grande liderança da luta contra a escravidão naquele estado no século XIX.

Em Caruaru (PE), no Agreste pernambucano, a estudante Maria Santos, de 23 anos, é o nome da UP para a batalha eleitoral contra as oligarquias. “Aqui no município, só tem uma candidatura de mulher negra à prefeitura: a da Unidade Popular. O nosso objetivo com essa candidatura é organizar o povo, impulsionar a sua luta e mostrar uma alternativa concreta de mudança da realidade, que é o socialismo”, aponta a estudante.

Já na capital pernambucana, Recife, a candidata será a enfermeira Ludmila Outtes, de 36 anos. A liderança da UP também é a atual presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco (SEEPE), posição da qual liderou mobilizações que resultaram em importantes conquistas para a classe, como o Piso Salarial e a sala de descanso exclusiva para a enfermagem nas instituições de saúde. Na própria categoria de que Ludmila faz parte, 80% das trabalhadoras são mulheres, das quais 65% são negras, como ela.

Agitar o socialismo nas eleições Também na disputa pelo Poder Legislativo, a UP construiu chapas com importante participação dos pretos e das pretas entre os candidatos, particularmente os jovens, devido a seu papel central na mobilização cotidiana contra o fascismo e pelo socialismo no Brasil.

Um dos mais importantes exemplos vem do Sul do país: Amanda Wenceslau, de 22 anos, concorrerá à vereança em Florianópolis (SC) para defender os direitos da juventude negra catarinense. “Em um estado como Santa Catarina, que registra 6 injúrias raciais por dia, ter uma candidatura de uma jovem preta na capital é um desafio, mas mostra qual é o lugar que a gente tem na UP e na luta pelo socialismo”, explica a estudante de Saneamento no IFSC e diretora da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET).

Na cidade operária de Mauá (SP), a UP lançou a candidatura de Selma Almeida, que é liderança da Ocupação Manoel Aleixo do MLB e coordenadora nacional da Central de Movimentos Populares (CMP). Ao jornal A Verdade, ela disse: “Nós que somos candidatos da UP sofremos o que todo mundo sofre. Ando de ônibus, uso o SUS e estou há seis meses esperando um especialista. A Unidade Popular é esse partido de lutas que quer chamar o povo às ruas para reivindicar os seus direitos e construir o socialismo. Eu me sinto muito honrada de carregar essa bandeira”.

Por isso, as candidatas entrevistadas ressaltam que a Unidade Popular quer utilizar o espaço das eleições para convocar os milhões de brasileiros explorados a lutar por grandes transformações econômicas e sociais no país. “A UP é um partido que vai organizar não só o povo negro, mas as mulheres, a classe trabalhadora, os pobres, todos os que estão sofrendo com a desigualdade no capitalismo”, defende a pernambucana Maria Santos.

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